Suspiro de mim


Uma estrada, sozinha, vagando na fumaça de meus pensamentos. O inverno chegava, devagarzinho como quem não quer nada, dentre as dolorosas e pesadas gotas de chuva. Ali, derramando o céu, guardando o sol só para si, culminando a solidão de minh’alma, como as mãos que confortam e são as mesmas que apedrejam. Ah! Mas parte de mim... Parte de mim deixava-se fugir, deixava-se resvalar como a chuva que escorria sobre meu corpo de encontro ao chão. Molhava a pele seca, sem vida. O frio ressuscitava, estremecia o espírito desfalecido. A água limpava a mente, esclarecia a minha consciência em relação aos meus defeitos e tirava-me dos olhos o véu do orgulho, capaz de impedir que os perceba e confesse a mim mesma. Surpreendo-me com o que não esqueci. Não o pôster da Helena Bonham Carter. Este esqueço todos os dias, por isso coitado é o Rayan que tem que fingir-se a tristeza n’um olhar de olá. “Trago seu pôster amanhã!”, eu o respondo n’uma promessa vazia de quem tem a cabeça oca. Mas do menino eu não esquecia. Quiçá... Masoquismo! Meu pensamento findou n’um lamento. Até hoje o ingrato inconsciente imprime no coração o meu foi mal. Talvez fosse isso. Desde os tempos de outrora, a alma estava fatigada de sentir-se culpada ou estar na pele de Edward e possuir nas mãos, armas. Ferir mesmo quando, e quem, não se quer. O menino era puro demais para ser ferido. Foi a minha mais suja covardia. Descrevê-lo é um atalho árduo. É como dançar sem música. Nunca fez e nunca fará esforço para algo acontecer. Feito ou mal-feito, se acontecia naturalmente. Era zeloso p’ra qualquer alma olhá-lo dar valor a mais pura simplicidade da vida. O vento fazia sentido e todas as flores pareciam ter aromas. A pressa nunca fez tanto sentido em ser inimiga da perfeição. Tempo a gente tinha, nos minutos se fazia a eternidade. A chuva era o choro do céu quando o próprio estava cansado demais. Sentíamos suas lágrimas sobre nós e dançávamos ali regozijando-nos por não ser nossa a tristeza, a exaustão. Antes de você, não chovia assim, forte, deste jeito. O meio-dia não parecia noite e o sol não tinha medo de se fazer presente entre as nuvens pesadas. O céu cinza, agora, reflete a cor de minha alma e só então percebo que não chora por ele. Está a chorar por mim. São as lágrimas que não posso derramar. Então eu fico aqui esperando a chuva, tristeza molhada, desanuviar dentro de mim com um sorriso seu.
Desculpa-me se só agora me dei conta da cor que tem o meu dia. Já teve a cor da sinfonia, das flores ao redor, cor da astrologia, da água que deu enlace. Cor da sua camisa quando, você, sorrindo olhou para mim.

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