Quiçá sendo a brisa.


Flor, deixe-me ser o vento que te abraça,
te envolve e leva o teu cheiro consigo.

Passarei por ti leve, morna e sem pressa.
Espalharei sua beleza mundo a fora
e todos conhecerão o perfume da felicidade!

Flor, mais que um beija-flor, quero ser o vento
Beija-flor vem, mas se vai assim que te beija.
Vento te assopra, te cheira, te prova
Todos os dias enquanto existir a brisa.

Flor, quero ser o vento que te acompanha,
que te dança, que te respira e que nunca faz curva.
Pois se o fizesse, poderia perder-se no caminho.

Flor, deixe-me ser o vento que te encontra
onde estiver, quando estiver, com quem estiver.
Deixe que eu te ache pelo aroma,
Que eu te beije sem tocar-lhe,
Que eu te ame em resvalo.

Flor, quero ser o vento que fará-te bailar,
mesmo triste.
Quero ser o vento que secará o teu orvalho,
mesmo que triste.
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Querido L.


Finalmente aqui te escrevo porque minha alma já cansou de se perder. Perdi até o que não era meu, como as poesias diárias que escrevi na espessura da folha de papel desgostosa de mágoas, e que gritei, e que senti e sussurrei. Rondavam aqui e ali, mas tudo era sombra. Não tenho mais nada de bom a dizer. A minha alma foi comprar cigarro no boteco da esquina e não voltou mais. Está lá por todas as estórias borradas que criei, dentre todos os príncipes encantados e todos os arco-íris sem cores. As retinas fatigadas já esqueceram qualquer cor e te vejo agora em tons cinza, que é tudo o que o oco da minha alma reflete. Queria eu choramingar por que você está ao meu lado e não por que não está. Ficamos perdidos? Eu não deixei, não permiti. Por que me desobedece? Não faça desse jeito. Não me perca e nem me entregue. Diz-me que teu amor ainda é o mesmo, por que eu não te esqueci.

Faz-me sentir que a felicidade ainda me tem o coração, que o fogo não se tornou chuva, que o dia vem e vai, mas quanto mais eu penso mais tenho certeza de como é difícil o te esquecer. Não sou perfeita, verdade, mas ninguém é. Deixe-me ir tomar banho, mas não para lavar o corpo porco, a alma fedida e estragada de tão triste e para drenar as lágrimas sentidas, mas sim para encontrar-te mais tarde, coração. Quero que teus olhos pertençam a mim e tua boca sussurre o quão linda sou, mesmo que eu já saiba que não sou. Faz-me acreditar que sou compreendida, que a chuva cai das estrelas e não da minha alma seca, que mesmo em pó eu sou bonita e que não tenho alma poetisa, por que todo poeta se procura em algum horizonte e eu só quero me encontrar em ti, amor tangível. Não sai de mim, tombe para meu lado, eu te sustento, te seguro, te apoio.

Faz-me sentir que o inverno chegou, passou, mas que o frio ainda não dura. Lá vem a chuva de novo, e de novo, e de novo. Faz-me acreditar que o amanhã terá sol e que valerá a pena ainda ficar acordada. E mesmo que não tenha, prefiro nos deixarmos na chuva, que te deixar ir embora de novo. Não sou inteira, verdade, mas sei dançar em meus próprios cacos. Compreende-me? Quando meus olhos te terem de volta, as coisas não serão da mesma forma. Choramingo por que te tenho aqui, mas não te tenho. Como não enxerga? Eu já vi diamantes serem feridos, poucos lapidados. Lapida-me. Eu te amo e se eu puser tudo no papel, não estará dentro de mim ameaçando tirar a vida que já não tenho. Vivo, verdade, mas vivo sem vida. Devolve-me as cores, os amores, os pudores. Devolve-me a poesia, o crepúsculo, por que estou presa em que tudo é noite e nada é dia.

Faz-me te sentir fazendo o melhor para mim, por que é o que mereço. Faz-me sentir que um pedaço do teu coração morre quando choro, que se eu fosse embora seus sonhos nunca se realizariam com outro alguém e que se pergunta todas as noites o porquê de Deus não ter me colocado na tua vida antes. Sempre fui tão transparente, tão visível para ti. Por que sinto que me escondeu de teus olhos, teu tato? Ah! Eu posso aprender a te querer com pressa em todas as manhãs, mas deixar-me dormir mais um pouquinho. O que eu devo fazer? Bem, a escolha é tua. Mas não permito e te proíbo de escolher não me amar. Não vê? Ainda pode ser verão, ainda podemos brincar de esconde-esconde e ainda posso te cantar músicas de ninar todas as noites – mesmo que por telefone. Quero massagear teus ombros, costas e pescoço não só por que você se sente bem com isso, mas também por que me faz sentir a mulher mais feliz do mundo por te tocar. Aceita?

Aceita sim, meu amor, que eu prometo dançar meu balé mal dançado só para te fazer rir. Sei que o teu amor é meu quando olho em teus olhos ou quando me toca a alma, ah! Mas é tão lindo te ver me ter nas palmas de tuas mãos, é como se manuseassem uma estrela. Mas choramingo. Choramingo por não ver teu amor por mim quando não está bem na minha frente. Mas gosto da liberdade de estar presa em só te amar. Espere só mais trinta minutos! Não ache que acabou. Está só começando. E para ti? Não! Eu te proíbo de dizer não, não permito. Só me ame, esteja aqui. Como eu poderia sentir tua falta se você nunca ficou? Mas eu sinto. Então apenas volte, que minha alma estará colada em sua porta fumando enquanto te espera chegar em casa.
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Antes morta.



Meu escrito
nunca dito
tem um grito
p'ra amar

Minha fala
só resvala
o que me entala
a sufocar

Minha dança
de criança
só se lança
p'ra curar

Meu desejo
não despejo
quero beijo
a te adorar
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À meia luz do céu nublado.


Ei, a nuvem ainda continua a chorar lá fora. Se fechar a janela ainda sinto frio. Se enroupar-me a pele pálida, quase sem vida, com cobertores, ainda sinto frio. A verdade é que antes de dormir olhei-me no espelho temerário e clássico que você, quando estava aqui, decidiu pendurar na parede. “A parede está sem vida”, você dizia. Que equívoco! Pois antes não havia um reflexo meu na dita cuja descorada. Na primeira vez em que olhei o meu reflexo, vi apenas uma garota. Quase desconhecida por mim, a não ser por seu sorriso inconfundível que se deixava, cautelosamente, brotar entre os lábios. Singela, doce, sem ambição alguma. Tímida demais para mostrar-se mulher nos traços que a desenhavam. Gostava de estar com os olhos na lua, de ter no olhar o brilho das estrelas que enfeitam o céu negro. Ali mesmo, em seu quarto, já fez mil projetos trágicos. Suicídios, vinganças sangrentas contra quem já a feriu na alma, rebeliões, casamentos; jurou por um Deus que se vingaria de modo fúnebre exemplar. E era como se bastasse uma brisa leve, morna, fresca e sem pressa para esboroar suas idéias sanguinárias. Sôfrega era, mas corajosa para ser, não. Para a garota no espelho eu digo “prazer em conhecê-la” ou “sempre fomos assim”? Então, decidi olhar-me uma outra vez. Preciso dormir era, mas ver-se nas respostas de suas próprias perguntas também. Na segunda vez em que olhei o meu reflexo, vi você. Que culpa eu tenho? Depois de você, às vezes, parece que não restou mais ninguém. Nem mesmo a mim. Foi uma pergunta que fez nossa história começar, mas que pergunta foi esta que fez tudo agora acabar? Outra viagem de negócios, outro motivo para ficar longe. E indo longe, longe foi. Eu não era boa o bastante, era o que você dizia. Talvez não fosse mesmo. Era limpa demais para a sua alma porca. Mas não o culpo por estar tão desfalecida agora. Um dia você foi tudo o que me fez ter o coração em sensação de chamas, sentir correndo nas veias o sentimento abrasado. Eu o amei, eu o adorei, eu o desejei, eu o quis. Mas você tinha lábia cruel. Fazia-me mentirosa em uma de suas promessas vazias de amor, por ser a única de nós dois a jurar a verdade. E então depois de vê-lo em meu próprio reflexo, enxerguei o meu presente. Senti a minh’alma presa n'um vidro polido e metalizado que refletia a invasão, pela janela entreaberta, da meia luz do céu desgostoso. Senti um frio tão forte, como quem está sentindo na pele e no fundo da alma a sensação de quando se tem febre alta. Senti a alma vazia, vi a lacuna detrás da pele. Deu vontade de sentar no chão, abraçar as pernas e esconder o rosto entre os joelhos. Ficar quietinha assim até desanuviar esta tempestade, que só sobrasse o cheiro de terra molhada. Mas não é tão fácil. Estou chovendo.
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Reflexos d'alma borrada no céu.


Que cor tem o meu dia?
É tinto de agonia
ou de alguma dor maior?

Que cor tem o meu dia?
Escolho pela alegria
ou pelas flores ao redor?

Que cor tem o meu dia?
Vem da eufonia
ou do piano empoeirado?

Que cor tem o meu dia?
Da religião, astrologia
ou do misticismo pertubado?

Que cor tem o meu dia?
Escolho pela sinfonia,
pelo cheiro do jasmim?

Ou pela camisa
do lindo moço
que sorrindo olhou p'ra mim?
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