Querido L.


Finalmente aqui te escrevo porque minha alma já cansou de se perder. Perdi até o que não era meu, como as poesias diárias que escrevi na espessura da folha de papel desgostosa de mágoas, e que gritei, e que senti e sussurrei. Rondavam aqui e ali, mas tudo era sombra. Não tenho mais nada de bom a dizer. A minha alma foi comprar cigarro no boteco da esquina e não voltou mais. Está lá por todas as estórias borradas que criei, dentre todos os príncipes encantados e todos os arco-íris sem cores. As retinas fatigadas já esqueceram qualquer cor e te vejo agora em tons cinza, que é tudo o que o oco da minha alma reflete. Queria eu choramingar por que você está ao meu lado e não por que não está. Ficamos perdidos? Eu não deixei, não permiti. Por que me desobedece? Não faça desse jeito. Não me perca e nem me entregue. Diz-me que teu amor ainda é o mesmo, por que eu não te esqueci.

Faz-me sentir que a felicidade ainda me tem o coração, que o fogo não se tornou chuva, que o dia vem e vai, mas quanto mais eu penso mais tenho certeza de como é difícil o te esquecer. Não sou perfeita, verdade, mas ninguém é. Deixe-me ir tomar banho, mas não para lavar o corpo porco, a alma fedida e estragada de tão triste e para drenar as lágrimas sentidas, mas sim para encontrar-te mais tarde, coração. Quero que teus olhos pertençam a mim e tua boca sussurre o quão linda sou, mesmo que eu já saiba que não sou. Faz-me acreditar que sou compreendida, que a chuva cai das estrelas e não da minha alma seca, que mesmo em pó eu sou bonita e que não tenho alma poetisa, por que todo poeta se procura em algum horizonte e eu só quero me encontrar em ti, amor tangível. Não sai de mim, tombe para meu lado, eu te sustento, te seguro, te apoio.

Faz-me sentir que o inverno chegou, passou, mas que o frio ainda não dura. Lá vem a chuva de novo, e de novo, e de novo. Faz-me acreditar que o amanhã terá sol e que valerá a pena ainda ficar acordada. E mesmo que não tenha, prefiro nos deixarmos na chuva, que te deixar ir embora de novo. Não sou inteira, verdade, mas sei dançar em meus próprios cacos. Compreende-me? Quando meus olhos te terem de volta, as coisas não serão da mesma forma. Choramingo por que te tenho aqui, mas não te tenho. Como não enxerga? Eu já vi diamantes serem feridos, poucos lapidados. Lapida-me. Eu te amo e se eu puser tudo no papel, não estará dentro de mim ameaçando tirar a vida que já não tenho. Vivo, verdade, mas vivo sem vida. Devolve-me as cores, os amores, os pudores. Devolve-me a poesia, o crepúsculo, por que estou presa em que tudo é noite e nada é dia.

Faz-me te sentir fazendo o melhor para mim, por que é o que mereço. Faz-me sentir que um pedaço do teu coração morre quando choro, que se eu fosse embora seus sonhos nunca se realizariam com outro alguém e que se pergunta todas as noites o porquê de Deus não ter me colocado na tua vida antes. Sempre fui tão transparente, tão visível para ti. Por que sinto que me escondeu de teus olhos, teu tato? Ah! Eu posso aprender a te querer com pressa em todas as manhãs, mas deixar-me dormir mais um pouquinho. O que eu devo fazer? Bem, a escolha é tua. Mas não permito e te proíbo de escolher não me amar. Não vê? Ainda pode ser verão, ainda podemos brincar de esconde-esconde e ainda posso te cantar músicas de ninar todas as noites – mesmo que por telefone. Quero massagear teus ombros, costas e pescoço não só por que você se sente bem com isso, mas também por que me faz sentir a mulher mais feliz do mundo por te tocar. Aceita?

Aceita sim, meu amor, que eu prometo dançar meu balé mal dançado só para te fazer rir. Sei que o teu amor é meu quando olho em teus olhos ou quando me toca a alma, ah! Mas é tão lindo te ver me ter nas palmas de tuas mãos, é como se manuseassem uma estrela. Mas choramingo. Choramingo por não ver teu amor por mim quando não está bem na minha frente. Mas gosto da liberdade de estar presa em só te amar. Espere só mais trinta minutos! Não ache que acabou. Está só começando. E para ti? Não! Eu te proíbo de dizer não, não permito. Só me ame, esteja aqui. Como eu poderia sentir tua falta se você nunca ficou? Mas eu sinto. Então apenas volte, que minha alma estará colada em sua porta fumando enquanto te espera chegar em casa.

0 comentários:

Postar um comentário

 

Apesar de você Design by Insight © 2009