Ladra cruel, por que fizeste isto comigo?


- Como ele é? Tudo bem... Vermelho, pequeno, velho e cansado do amor; dois ventrículos e dois átrios; bom... o senhor já deve saber como é. Igual ao de todos, só que um pouco mais exausto da vida, do amor e das lágrimas que tanto derramei.
- Descreva-me quem o furtou.
- Ah, policial, cabelos longos e louros. Caíam sobre seus olhos quando o vento os tocavam. Possui nos cachos o Sol. Os olhos mais misteriosos que eu já vi. Convence a qualquer um a se infiltrar neles de tamanha intrigância que eles causam. Com as mãos um olhar despreza. Seu olhar era de Medusa; seu sorriso era de Monalisa; e trazia nas cordas vocais, o timbre perfeito. Despendia um cigarro com soberba enquanto roubava os olhares de todos na rua, inclusive, o meu. E quando ela olhou-me de volta, foi então aí que aconteceu... Quando me dei por mim, ela havia sumido e junto, havia o levado de mim.
O policial anotava cada palavra que ouvia em seu caderno entre olhares de sobressalto ao rapaz.
- E então, como você resolverá meu problema, policial? Preciso dele de volta.
- Escute, meu caro, eu nunca presenciei um roubo de um coração, mas tomarei as devidas providências.
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A cor dos seus olhos me faz querer levantar todas as manhãs


Perguntou-me um velho sentado ao meu lado no metrô, no que eu pensava antes de dormir.
- Com licença, senhor?
- Sim, minha jovem, qual seu último pensamento todas as noites?
- Eu... não me lembro.
- Como não?
- Quando deito na cama, cria-se um rio de pensamentos em minha mente e sinceramente, eu não sei nem por onde começar a contar sobre o que eu penso. Cada dia há algo novo, senhor.
Deito na cama. Penso em você segurando minha mão impedindo-me de não ir para casa há duas semanas atrás. E eu quase posso sentir seu toque, e eu quase posso sentir seu cheiro, como também o seu gosto e seus dedos tocando-me o rosto levemente, como se quisessem marcar meus traços em sua mente para sempre. E eu quase posso sentir vergonha por você não parar de sorrir quando me olha por horas, sem motivos e preocupações.
Olhar só por olhar.
Olhar só por amar.
E eu quase posso sentir seu maxilar perfeitamente desenhado contraindo-se em minhas mãos. E eu quase posso sentir você aqui comigo. E eu quase posso chorar por ser só "quases". Tento não chorar e penso como foi o meu dia. Trânsito, calor, frio, cansaço... rotina.
- Tente lembrar, linda jovem.
Durmo sem saber o que pensei, o que achei, o que critiquei sobre meus próprios pensamentos.
Apenas durmo. Apenas apago. Apenas peço à noite, que me dê sonhos com o moço que faz meu coração desejar continuar batendo e que o faz chorar. Chorar de saudades do seu sorriso e sua risada baixa que o quebra aos poucos, que o derruba, que o deixa completamente, imensamente e indizívelmente apaixonado por ele.
- Senhor, desculpe-me, mas eu não me lembro de nada. Recordo apenas dos meus pensamentos de quando... - Fez-se o silêncio.
De quando eu acordo. Todas as manhãs, acordo mais feliz ou mais triste. Acordo mais triste quando não sonho com você e mais feliz quando sim. É acordar feliz lembrar como tivesse sido real, mesmo que doa saber que só foi um sonho bom. E minha mente começa a funcionar em torno de você. E eu quase posso sentir você me acordando com seus lábios quentes e sempre tão macios beijando-me o pescoço enquanto as pontas dos seus dedos desenham minhas costas e minhas curvas sabendo que seus lábios parariam ali. E eu quase sorrio, só quase por ser só mais um "quase". Posso ver os seus olhos em minha mente. Resolutos, cobiçadores e misteriosos. Possuem neles, uma mistura das maravilhas das maravilhas; o brilho das estrelas ali; e a mais bela cor das cores. O castanho mais encantador que eu já pude ver. A cor dos seus olhos me faz querer levantar todas as manhãs.
Faz-me querer viver. Faz-me querer amar. Sem medos, sem mágoas, sem rancores. Como se eu estivesse amando pela primeira vez. E eu quase sorrio. Sorrio de você.
- Disse algo, minha filha? - Ele tossiu de velhice, sua mão tremia e tocava-me o ombro com uma sinceridade tão grande, que as palavras "minha filha" por um segundo pareciam ser literalmente.
- E o senhor?, no que pensa antes de dormir?
- Eu não faço a mínima ideia, por isso lhe perguntei.
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