Allie tenta se apaixonar, mas acaba dormindo



Gian. Gian. Gian. Gian. Gian. Gian. Dito deste jeito não inspira nada. É um nome francês? Sei lá! Mas quem sabe se eu usar um pouco do meu je t'ador aqui e um l'amour ali fique mais interessante? Tendências políticas que se opunham à ditadura militar na cinematografia (Gian 56). A amizade de um exilado e um analfabeto com a mais doce das paixões em comum: a poesia! (O gian e o poeta). Ah! É nome comercial (Gian autopeças). Nome de dupla sertaneja (Gian e Giovani). Gian. Que maldita ideia é esta de chamar alguém de Gian? Dinheiro ele não tem muito. Trabalhador, esforçado; no fim do dia costuma dizer o quanto está cansado, mas só se lhe perguntarem. Não reclama de nada. Sempre agradece por estar tão cansado depois de dois turnos trabalhando, diz que aprendeu muita coisa. Não tem moto, a que costuma ir para lá e para cá é da empresa em que trabalha. Magro, magricelo, macérrimo, mas não osso puro, tem lá seus pequenos e quase desprezíveis músculos. Bonito? Nariz longo, olhos que mudam de cor, passando do mel para uma mistura de castanho claro com verde oliva dependendo da iluminação e do seu humor. Seus cabelos encaracolados, coisa dos Deuses. Petulantes. Em seus cachinhos, o brilho de mil estrelas. Nem parecem cabelos... Como será careca? Acho que morre antes. Ele fala bem dos próprios sentimentos, do tipo que tem boa laia e faz a freira querer se converter depois de sete ou cinco palavras. Ele será um herói (Gian ou Confúcio, dá no mesmo) que vence uma guerra sem um único derramar de sangue (Espera aí! Confúcio é grandioso demais, quase um Santo). Ou músico (É!), Gian será um músico, do tipo John Lennon (Realmente! Seu modo de pensar sobre o mundo, as pessoas e as religiões é um monólogo que se dá vontade de escutar por horas; é delicioso, parece uma doce melodia soando em meus ouvidos). John Lennon. John Lennon. John Lennon. Gian... Acho que agora estou apaixonada. Puxa, esta noite pousei a mente sobre o nível especulativo. Daqui a pouco me pego contando a mim mesma a história de minha vida, como se eu fosse um desconhecido ouvinte, como se eu já não a soubesse de cabo a rabo. Minha tão curta vida. Mas então é isso! Gostaria de ter mais uma vida. Vida mais cheia, mais corrida, biográfica. Mas o quê, por exemplo? Um desastre na estrada, um atropelamento milagroso, um recorde no livro dos recordes, uma rebelião, uma volta ao mundo em oitenta dias, três divórcios, sendo duas vezes viúva, um choque, dois desmaios. Três gatos, três filhos. Sabe?, algo para poder contar, lorotar um pouco, fazer história em meio de conversas com parentes, falar um pouco sobre o passado... Um futuro para ser criado. Se não consigo me apaixonar, que eu durma, e amanhã não terei olheiras e mau humor. Olheiras são motivos de perguntas das quais eu não quero ter que responder. Eu preciso dormir. Pensar, agora, não vai me levar a nada. Então vamos por ordem:

Maneira 1: Pensar em algo mui tranquilo. O sol pondo-se entre as nuvens negras e o horizonte. Consigo, leva os ventos do verão que murmuram o que mais quero ouvir. É como se soubessem exatamente o que me toma o coração e em sussurros manipulassem a minha mente. Podiam ser ora mocinhos, ora vilões, depende do que eu estivesse sentindo. Lentamente, assisto o sol desaparecer e assim vejo a noite, esta persona dramática, chegando de mansinho. Logo, as estrelas estariam ali com a magia que só elas têm de enfeitar o céu negro e, enfeitando também, o fundo da minha alma.

Maneira 2: Pensar em algo heroico, revolucionário. Estaria eu, então, comandando um batalhão de meninos feios e inteligentes. Todos dispostos a romper qualquer obstáculo e a gritar por uma razão - até mesmo quando as suas gargantas insistirem em desistir. Talvez razão anarquista mesmo sendo em vão. As pessoas são ruins demais para agirem corretamente só por seu ideal ser assim, mas existe quem faça e aí vamos nós.

Maneira 3 (Terceira e última esperança para um sono doce): Pensar em algo afável. Gian. Gian (Ah! Seu nome de sonoridade francesa dito em voz alta é algo pelo qual você quer amar) tomando-me em seus braços, seu cheiro sereno sereno acalmando até os mais tensos dos meus músculos e pensamentos. Oferecendo-me as rosas que me trouxe e iluminando minha alma com seu sorriso. Fazendo-me enfim perguntar: por que não?

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