Um enterro e uma fuga


E então eu sentei no velho círculo, aquele do parque, que de tão enferrujado é preciso um tempo maior para que se tenha uma velocidade plausível. Agarrei ao volante e sozinha comecei a girar. Girar, girar, girar e girar. Eu não sabia no momento o que eu queria, eu só desejava girar. Vomitei. Na manhã seguinte me encontraram e me levaram para casa, estava faminta demais para reclamar disto. Deitada em minha cama apenas pensando, passei a entender por que entre todos os brinquedos do parque, eu fora escolher logo aquele. Um círculo medonho, infantil até demais, que possuía um volante no centro e era eu quem comandava a velocidade dos giros. Eu só queria ficar sozinha e consegui, mas por mais que eu girasse o brinquedo, aquele momento não passaria mais rápido. O mundo não é aquele brinquedo enferrujado, mas havia desespero. Por mais que eu girasse, o mundo não giraria mais rápido como o brinquedo, e tudo aquilo não passaria mais depressa. A minha ferida cicatrizaria mais rápido, eu nem teria que esperar por isso. Os dias passariam tão depressa. Por isso eu tentei. Tentei fazer do brinquedo, o meu mundo. O mundo em que eu ficaria bem logo.

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