Pensei em chorar. Sentir os sentimentos misturarem-se dentro de mim e inundarem meu corpo. Transbordar a dor por meus olhos e senti-la rasgar a pele, desfalecida, sem brilho, enquanto percorre sobre meu rosto de encontro ao chão. Extravasar um pouco a alma. Limpá-la com lágrimas de sofrimento. E então, pensei em Éfe. Lembrei do clamar do meu coração por um abraço seu, o ímpeto domado. Fácil, agora também, lembrar do sucumbir da alma numa despedida sua. De quão solitária é a sensação de redescobrir, mais uma vez, que o maior pedaço de mim é um pedaço seu. A alma estremece, os músculos parecem morrer e meu corpo fica esquecido em meio à vida desfalecida sem você. Lembro do brilho que leva consigo toda vez que vai embora, numa promessa vazia de voltar no outro dia; do silêncio entre nós que sepulta a luz das estrelas no céu. E lembrando, lembrando, vejo-me sentindo a falta do seu cheiro e acordo. Acordo. Posso finalmente sentir o meu cheiro, que não é bom, pois desde que você se foi, na sexta-feira, não tomo banho. O relógio marca meia-noite do domingo e que, agora, eu tome um banho frio. Que a água que sái do chuveiro lave o meu corpo e que as lágrimas lavem a minh'alma fatigada.
Depois, pensei em odiar. Sentir o sangue ferver, a mente espairecer num grito de raiva. Usar toda a raiva que existe dentro de mim, por que amanhã ninguém sabe. Mas odiar foi o mais fácil. Mais uma vez Éfe. Lembro que seu olhar diz-se de qualquer coisa cuja transparência nada perturba. Dos seus pensamentos já vistos de longe, pode vê-se as trancas a sete chaves, sete palmos abaixo do limbo. A mania de possuir no olhar o sadismo quando ressalta, com sua língua, os traços que me desenha a boca. O modo como me faz transparente e lê-me por inteira, cada traço, cada pensamento, cada característica. Lembro de quando não está por perto e faz-me pedir a um Deus para que Ele o proteja quando eu não posso. O modo como, você mesmo, corta o cabelo e o fato de não me ligar. E o que mais me faz sentir ódio, é por nem por um segundo conseguir odiá-lo. E já que eu não odeio, que eu ame.
Pensei, finalmente, em amar. Mas amar foi o mais difícil, por que um coração já tantas vezes magoado aprende a ser turrão, teimoso, incrédulo. Mais uma vez, Éfe. Pensei então, quando, outrora, vi o sol em seus cabelos encaracolados e jurei estar no céu, ali diante de um anjo usando calça jeans. Lembrei de o que acontece ao me ter em seus lábios, isto é como ser beijada pelos Deuses. Também, lembrei, de que você não é prepotente; é difícil você dizer que alguém não tem razão, apesar de sempre estar certo. Do jeito que enfrenta a vida com bom humor e quando está triste, não tenta se vingar sobre os outros como em geral se faz quando se está deste jeito. Lembro, enfim, da minha vida se tornando mais bonita com você e do quanto gosto de acariciá-lo em público, para que todos possam ver o amor emanando de nossos olhos. De que o tempo, com você, se torna algo que se pode parar, cortar em mil pedaços perfeitos. Em mil instantes para lembrar, para contar, para guardar entre você e eu como uma espécie de garantia. Agora que tudo se acabou. E então, pensei em sentir tudo que eu já senti estando com você, pensando assim, em ser feliz de novo. E então, mas e então, mais uma vez Éfe.
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