Eu que tinha um nome diferente já quis ser Luísa


E ainda que eu pudesse ser uma mulher de Chico, talvez fosse a boba. Mulher singela, desarmada. Desenhada por inocência, ressaltada por esperança. Sim, esperança. Por que depois de um primeiro amor fracassado, só a dita cuja para dar disposição para um segundo. E antes que houvesse um terceiro fracasso, finalmente o meu coração cessaria em dizer não e na paixão se entregaria n’um sim. Teresinha é corajosa, mas por detrás das costelas, cicatrizes de batalhas. E talvez, outrora, eu não quisesse isso. Queria ser limpa, clara, virgem na pele e na alma. Mas e então só depois de ser boa, talvez quisesse ser o fútil. Vestir-me com o manto da banalidade. Ser corriqueira das riquezas, fruto da exuberância, a obra esculpida em carrara do trivial. Preterir dos sentimentos genuínos, mas abraçar os sentimentos que sujam qualquer espírito. Talvez eu quisesse ser assim material. Talvez quisesse ser a Ana “das marcas, das macas, das vacas, das pratas”. Ser a Ana de Amsterdam. E meu desejo até se realizaria se em meu bolso não houvesse a ausência do tostão. Logo, desejei ser outra mulher. Quiçá, o escarro, mulher do menosprezo. A esquecida, rejeitada. Ser Ligia e não despertar amores, pudores, valores e todos os outros e quais queres ores. Mas também, não me sentira abaixo do solo por isso. Também mentiria, seria impiedosa. Lecionaria as mentiras de amor. Entretanto sorrir infiel é algo difícil para que eu faça. Então cessei. Cessei de Ligia. Cessei de mim. Cessei de todas. Todas até pensar em Luísa. Ah! Luísa...
Doce Luísa, Chico te esculpe entre letras. E finalmente eu quis ser alguém. Alguém que n’um sorriso ilumine até o mais negro dos cantos. Fazer da fluidez da minh’alma o abrigo de um ser. Ter os olhos coloridos de frutas doces, suculentas. E o chocolate branco que é da pele, precipitasse calor na mais gélida das almas. Quis ser o riso; a paixão; ser a mulher banhada com as melhores das essências, as que correm por dentro d’um peito, purifica e regozija até nas mais duras batalhas da vida. Desejei ser Luíza e fazer dos meus braços, abrigo do desamparado. Cativar o mais incrédulo dos corações. Ser uma mulher por quem alguém se levanta da cama todas as manhãs e em seguida sorri. Sorri só por sorrir, sorri só por amar. Fazer com que alguém por mim se “esqueça no tempo e no espaço, quase levite, faça sonhos de crepon”.
“Faço a lua
Faço a brisa
Pra Luisa dormir em paz”

Foi só então depois de ler teus versos, Chico, que me dei conta que de Luísa eu não tinha nada, não poderia ser. Minh'alma estava mais para Tereza Tristeza.

0 comentários:

Postar um comentário

 

Apesar de você Design by Insight © 2009